ARTIGOS, CRÔNICAS E CONTOS METAFORICOS ©
M E T E O R O ©
Salo Yakir - Junho 2005 (*)

Ainda que um meteoro estivesse em vias de colisão com a Terra,
os malandros se plantariam na esquina do Lapinha,
pé no paredão, peito à mostra, cabelão, cigarro caido na boca,
buscando os seus comparsas, a vitima, a moamba, o próximo golpe...
Entre os becos estreitos, um marginal estaria batendo em retirada,
atrás dele a sirene, os tiras atirando em polvorosa pra todos os lados.
Ainda que um meteoro estivesse em vias de colisão com a Terra,
os famintos estariam remexendo no lixo da Cantina di Roma,
ao meio da sinfonia dos gatos girando em volta dos latões emporcalhados,
dividindo a espinha do peixe e os restos do festim da elite requintada.
Homens e gatos emaranhados numa só pelugem, os felinos atracados,
os indigentes unhados, as sobras esparramadas pela sarjeta imunda..
Ainda que um meteoro estivesse em vias de colisão com a Terra,
Teresinha, lá no morro, levaria horas pra se vestir e maquiar.
Na praia, Tião estaria gritando pros banhistas chamuscados pelo sol escaldante:
" olha o picolé, a raspadinha, o suco de limão, a camiseta... a camisinha..."
O mar cristalizado em esmeralda e a paisagem emoldurada num prisma multicolorido,
a areia apinhada fazendo passarela pras raparigas com suas curvas esculturais, sensuais,
as nadegas voluptuosas e os mamilos enrijecidos pelas caricias das ondas atrevidas.
Ainda que um meteoro estivesse em vias de colisão com a Terra,
naquele dia o terreiro certamente estaria lotado, um maconheiro aprisionado,
um bicha e um tira esfaqueados, uma mulata violentada, outra abortante;
a batucada impregnaria o ar e o samba encheria de pandeiro os estomagos vazios.
Ninguém por ninguém, vagabundos e piranhas girando sem eira nem beira,
ora servindo os clientes, ora esperando o carnaval e a passarela, ora na caça de um incauto.
Ainda que um meteoro estivesse em vias de colisão com a Terra,
os estivadores, há meses sem salario, estariam fechando o tempo na avenida,
a greve gelaria o cais do porto, os silos à merce dos ratos famintos,
devorando os grãos da sacaria e as migalhas inacessiveis aos marginalizados.
Pros roedores repulsivos e os espectros das docas, sobreviver era um eterno desafio,
as sobras de comida um banquete, homens-ratos, num mundo imundo, de merda.
Ainda que um meteoro estivesse em vias de colisão com a Terra,
Teresinha, uma loucura de mulher, estaria cruzando a esquina com as coxas de fora,
um dos leões-de-chácara a agarraria entre gemidos e sussurros indecorosos
e porque ia mesmo acontecer o inevitavel no meio dos arvoredos,
ambos se bulinavam, as linguas lascivas se tocando entre beijos molhados e ofegantes,
os seios empinados meio à mostra, o membro ereto, o pecado conduzindo-os ao climax.
Ainda que um meteoro estivesse em vias de colisão com a Terra,
muitos ingenuos já teriam se ferrado nos atalhos do destino,
o ócio e a maldade, amigos intimos, estariam preparando desgraças sem fim,
no paredão, nas docas, na favela, na praia, na avenida, no arvoredo,
neles a vida dos vitimados se transformaria em sonho efêmero, num devaneio,
numa fragil bolha de sabão multicolorida se desintegrando no ar poluido.
Ainda que um meteoro estivesse em vias de colisão com a Terra,
o futebol seria o rei absoluto das tardes de sabado e de domingo,
figuras em movimento sobre o verde perseguindo sem tregua a agredida pelota,
a arquibancada estourando no meio do tumulto, da fumaça e da batucada;
e o arbitro, pobre e eterno juiz "filho da puta", no meio do público amotinado,
apontaria como um desvairado em direção à marca do penalti, e... Gooooouuuu !
Ainda que um meteoro estivesse em vias de colisão com a Terra,
o dinheirinho já teria mixado, não teria dado pro cheiro, tudo teria ido pras picas;
a boazuda, a loteca, a bebida e o "talco" teriam secado quase tudo,
toda a cambada estaria acomodada, certa de que não iria lhes acontecer mais nada,
mas no meio da noite algo colossal incendiaria as nuvens e... bum!! O bólido...A colisão
!!! O que poderia ter sido um novo dia banal de vadiagem, preguiça e mutretas,
transformar-se-ia numa gigantesca explosão meteórica, num suriname, num apocalipse,
atingindo não só os favelados, mas todos os demais insignificantes seres vivos do planeta.
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(*) Do livro "Cronicas Incubadas" - Artigos
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A MOÇA DO ÔNIBUS AÉREO ©
A moça no ponto do ônibus varria o horizonte com os cilios empinados a
procura do aerobus, que estava prestes a chegar. Nisto, passou sobre a sua
cabeça um ciclista de capacete côr de abacate que lhe acenou
alegremente, o qual reconheceu como sendo o florista do Largo do
Arouche. O poste, curioso, que a tudo assistia, debrucou-se em direção da
moça, querendo saber o porque de sua inquietacao. Nisto, apareceram
outros 3 ciclistas em disparada, equilibrando-se precariamente em cima de
um dos cabos leiser. O poste ajudou-os a levitar e endireitou-se para poder
observar se o aéreo despontava da boca do tunel.

O grande veículo enfim chegou e estabilizou-se no ar ao lado do poste,
sorridente. Saudou a todos com varios guinchados e chuva de faíscas,
enquanto baixava a plataforma de embarque dos passageiros. Dentro, todas
as poltronas de isopor estavam cobertas por pinturas de flôres e a moça
escolheu uma na fileira central, adornada por dalias púrpuras. A viagem
prosseguia rápida e, inesperadamente, ajudado pelo ar quente exterior,
pulou flutuando para dentro do coletivo um mancebo loiro, trajado de
jaqueta de palha e calças de veludo faiscante. Deparando-se com a moça,
os seus olhos negros se transformaram de imediato em azuis, devido à
intensa luz irradiada pelo semblante holográfico-angelical da rapariga.

A certa hora, o motorista ficou ofuscado com os raios que refletiam em sua
cabine e teve de estacionar no tôpo de uma antena para investigar. Disso
se aproveitou o mancebo loiro para sair pela janela e colher uma corôa de
margaridas do campo de um dos canteiros nebulosos proximos. Ao voltar,
gentilmente depositou as flôres na fronte da garota boquiaberta.

Mutuamente atraidos, se beijaram com ardor. Um dos passageiros, que era
duende e amigo de padre, deu a benção e casou-os no teto do veiculo
aéreo, sob uma tenda de flocos de nuvens. Serviram como padrinhos o
motorista e uma passageira de cabelos verdes e, como testemunhas, um
bando de andorinhas chilreantes que sobrevoavam o local em vôo razante.
Os ciclistas, que souberam do enlace, apareceram em bloco rebocando o
poste e, após a festança - e com o cantar do galo -, sambaram os noivos ao
Castelo Estrelar. Concluida a lua de mel, passaram todos a viver tossindo e
expectorando, mas quase felizes para sempre...
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(sob o ponto de vista do autor e da imprensa israelense)
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